terça-feira, 21 de março de 2017

Underground Never Dies

UNDERGROUND NEVER DIES
Redigido ao som de “Hell Awaits”.
Show de banda cover: Lotado.
Show de banda autoral com história: 50% da capacidade, quando muito.
Show de banda autoral cujos integrantes conhecem fulano, cicrano ou beltrano: 30% se derem sorte.
Show de banda autoral que não puxa o saco de ninguém e não tem “padrinhos”: Coitados...
Uma vez ouvi um técnico de futebol ao se referir a um clube cujo time ele já havia dirigido e passava por sérias dificuldades dizendo algo como “para a situação melhorar, uma meia dúzia de sanguessugas que estão lá há séculos precisa morrer”. É para pensar mesmo...
O que acontece com o Underground? As bandas cover/tributo enchem as casas gozando com o pau alheio, bandas autorais com uma trajetória respeitável e longa (com exceção dos medalhões que atingiram a notoriedade no exterior) quando muito conseguem uma audiência apenas “boa”, bandas com muitos conhecidos no meio, aqueles que nós sabemos que estão aí chamando para si a propriedade da cena desde sempre, trocando os nomes das bandas mas não os integrantes, conseguem levar sempre o mesmo número de pessoas, na verdade sempre as mesmas pessoas, porque essas pessoas se recusam a assistir quem não seja do seu círculo de amizades. Ainda existem as bandas, a maioria das bandas que conheço que não são tributo, ainda não tem uma trajetória extensa e não são amigos dessa última categoria de autodenominados “os donos da cena”.

Particularmente, opinião ultra-pessoal, não me incomoda completamente. Só é estranho, mas não me tira o sono. Sempre comentamos que a qualidade é infinitamente mais importante que quantidade, cago um monte enorme pra essa gente e me anima muito mais ver 1 pessoa que entende do que se trata e está lá por devoção e amor ao Underground do que 100 cuzões que só aparecem por qualquer outro motivo, como dizer que estava lá. É aí que eu queria chegar: nas pessoas que batem no peito, arrotam um amor eterno ao Underground, mas não vão nem quando o evento é de graça. Se tiver que pagar R$10,00 pra entrar, fudeu, esquece mesmo. Se for banda estrangeira, o sujeito vende até a mãe pra ir, se for alguma banda que vai ficar COPIANDO uma das bandas renomadas, desfilando um repertório alheio, o indivíduo pode até acabar indo, mas sair de casa pra ver bandas novas autorais, com integrantes que não são seus amigos, que não vai dar ibope se contar para os coleguinhas, aí nem fudendo.
Todos nós tivemos a oportunidade de ouvir ou ler variações das expressões “apoiar nosso movimento”, “prestigiar nossa cena”, “dar suporte ao nosso meio”, etc. Isso é relativo. Todas as sentenças com esse significado são passíveis de interpretação e isso começa em quem pronuncia. Depende muito de quem fala e a gente tem que identificar, porque, quem disse que todo mundo faz parte da mesma cena, movimento ou meio que nós? De verdade entendo que algumas pessoas não compreendam que não é tudo a mesma coisa, mas não, não é a mesma coisa! E aí voltamos no velho assunto, o que faz a diferença é a ATITUDE, a assustadora palavra que a maioria esqueceu o que significa.
Percebam que a palavra mais importante é “nosso”. Nosso de quem? Na cena que faço parte, não vejo essas pessoas. Não estamos na cena que eles prestigiam, e sorte a nossa, não precisamos achar que eles estão engajados conosco.
Parece xiita, mas e daí? Passou da hora de a gente parar de achar que é politicamente correto não separar as coisas ou de nos envergonharmos ao assumir que a gente nunca gostou mesmo de que um bando de cuzões queira fazer parte de coisas que a gente sabe que não é pra todo mundo. Tem gente que nós sabemos que deveria voltar pra roda de samba, pra danceteria, pro baile sertanejo, pro camping no meio do mato, pra porra do inferno porque não tem nada o que fazer aqui! E eu não me incomodo, pelo contrário, até fico feliz em dizer que não são bem vindos, que não fazem parte da cena Underground de verdade e que só vão me dar alegria quando forem tomar no cú bem longe de mim.
Refiro-me aqui a um grupo de pessoas que chama pra si a autoridade e propriedade do movimento mas não faz a menor ideia do que acontece aqui.
O bom disso é poder dizer que não fazem falta. O texto todo não foi elaborado por que eles não vão aos eventos Underground de verdade, mas porque não praticam o que pregam, e cá pra nós, não precisa praticar. Só não pregue.

João Paulo Marcondes (Insanitah)

Um comentário: