sexta-feira, 17 de março de 2017

Reflexões do Underground

  Cerca de um mês atrás, meu irmão Marcos Thrasher publicou novamente um texto que escrevi no começo de 2016, falando da perspectiva que eu tinha da “cena” naquele momento. Foi engraçado ler aquilo e fazer um paralelo com o que vejo hoje.
    Em um ano muita coisa acontece. Conheci mais pessoas e bandas nesses 12 meses e pouco, e proporcionalmente ao último, passei a admirar e ter mais amigos no meio, músicos e pessoas envolvidas de verdade. Talvez por conta da idade ou da experiência adquirida nesses mais de 25 anos de caminhada, ficam evidente as intenções de cada um. Tem gente SINCERA aqui, e como sempre, também tem  um bando de moleques, muitas vezes moleques com mais de 30, 35 anos, com um foco completamente distorcido.
    Já tem um tempo que nós reclamamos da ausência de público nos eventos Underground de verdade e dezenas de teorias tentam explicar  porquê isso aconteceu. Apontaram as bandas cover/tributo como culpadas, apontaram as casas, apontaram os preços que as casas cobravam, todo mundo tem uma explicação. Na minha opinião, bandas tributo ou cover, não atrapalham. São dois segmentos diferentes e podem coexistir, veja bem, NÃO NUM MESMO EVENTO. Bandas autorais já sofrem o suficiente para encontrar espaço, é mais restrito para as estas, e cada banda cover que toca em um evento autoral está “roubando” a oportunidade de uma banda nova mostrar seu trabalho. As bandas cover têm mais possibilidades.
    As casas, entendo que precisam sobreviver. Dá mais lucro, tem mais público quando a banda é cover, mas isso não isenta as casas de responsabilidade. Ainda há falta de respeito com bandas e público, ainda existem casas que não veem com seriedade o trabalho que fazem, e a eventual falta de estrutura nem sempre é o problema. Algumas casas ainda tratam as bandas autorais como um bando de desesperados implorando para tocar.

    Daí, vamos ao outro ponto... O público. Talvez a internet tenha criado uma geração preguiçosa e acomodada. Todo mundo apoia, todo mundo é super dedicado, desde que não precise sair de casa. Isso sim é algo difícil de solucionar.
   Então dando mais um passo atrás, vamos às bandas: O primeiro ponto, é a mentalidade de cada músico. Precisamos parar com a ideia de que “quando entro em uma banda deixo de ser público”. Músicos escamam pra caralho quando vão tocar e o público é escasso, mas 98% jamais sai de casa exclusivamente pra assistir um evento Underground, com bandas que estão na mesma luta que o indivíduo em questão, só vão quando estão no cast. Muito feio. Conheço sim músicos que se deslocam pra assistir outras bandas e fica aqui minha eterna admiração, dar o exemplo é o primeiro grande passo dessa jornada. È ridículo cobrar dos outros o que você não pratica.
   Ainda sobre as bandas, a desunião, o oportunismo e o amadorismo são também coisas nocivas. Aqueles “moleques” que citei acima  recebem o apoio mas jamais estendem a mão. Muitas bandas se enfiam pra tocar até em velório, mas JAMAIS se propõe a retribuir. Essas bandas nós sabemos que tem vida curta, a arrogância, a falsa perspectiva de tamanho vão sem dúvida afundá-las.
   Outra coisa curiosa, nesse último ano vi mais de uma vez bandas completamente descomprometidas, sem a menor intenção de mostrar um mínimo de dedicação. Só pra exemplificar, imagine uma banda chegar no evento sem trazer sequer um cabo, uma guitarra, as baquetas... Sem exagero, já aconteceu. Evidente que isso reflete na música, na postura e na maneira como são vistos, e felizmente não é frequente nesse nível, embora coisas também incômodas  como “não-olha-na-cara-de-ninguém-mas-quer-usar-seu-equipamento” aconteçam vez por outra.

    Não quis com esse texto me apropriar de verdade alguma, são só impressões sobre coisas que seriam legais se fossem diferentes, ao meu ver. Ao contrário do que possa parecer, foi um ano incrível, produtivo e a maioria das pessoas que conheci nesse período merecem todo o meu respeito, têm o meu apoio e minha amizade. Os outros, certamente vão ser só lembranças no próximo texto.
    Fica meu abraço, gratidão e eterna admiração à você que vive esse nosso mundo com honestidade, sinceridade e lealdade, a cada um de vocês que, respeitando sua individualidade, sabe que faz parte de algo maior e se orgulha disso dando sua contribuição para que as engrenagens não parem.

Texto de João Paulo Marcondes (Insanitah)

Um comentário:

  1. É impressionante como a distância por maior que seja, reflete diretamente no cotidiano , seja de norte a sul do país, os problemas são os mesmos.
    E a cada parágrafo que li, reflete diretamente no que acontece por aqui e quisá no país inteiro.
    Parabéns pelo texto, João Paulo Marcondes,a abordagem é perfeita.
    São as " verdades que doem ", mas fica a dica/lição para que possamos encurtar essa ponte e sejamos mais presentes em ambas as partes.
    Como você citou, a engrenagem não pode parar .

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